Em 2024, o projeto “Arte de Casa em Casa” percorreu mais de 50 horas de estrada e rio para chegar a espaços galerias em Apeú (Castanhal), Quatipuru, Salvaterra (Marajó), Mosqueiro, Marabá e Icoaraci, berço da iniciativa, onde o desfecho contou com um evento de arte festivo e simbólico. Agora, essa história também está registrada em um vídeo-documentário lançado no YouTube, consolidando as memórias, desafios e conquistas do projeto.
“A ideia de gravar e disponibilizar o registro final foi uma maneira de dar voz e visibilidade a esses espaços que, muitas vezes, resistem na sombra”, explica Werne Souza, idealizador do projeto e coordenador do espaço cultural Na Casa do Artista, em Icoaraci. “O projeto cresceu durante as viagens. O encontro com outros artistas e espaços semelhantes ao nosso foi uma das partes mais enriquecedoras.”
O vídeo lançado no YouTube é uma celebração dos territórios, das histórias e das conexões criadas entre artistas locais e comunidades. E mostra um pouco de como foram as exposições e rodas de conversa. A itinerância, contemplada pelo Edital de Artes Visuais da Lei Paulo Gustavo (Secult-Pa), agregou e fortaleceu uma rede cultural independente no Pará.
Jornada de encontros e arte

O projeto foi idealizado a partir das experiências e vivências do espaço Na Casa do Artista, mantido por Werne e pela produtora cultural Auda Piani, um lugar que respira cultura em um ambiente intimista , situado próximo à orla de Icoaraci, e que se abre para as mais diversas experiências artísticas, indo das artes visuais à música e cultura alimentar.
Ao todo, participaram da itinerância 24 artistas, entre eles nomes como Marcone Moreira, Ettiene Angelim, Armando Queiroz e Rosângela Britto. Espaços como a Taberna Marajó em Salvaterra, Expressart em Mosqueiro e o Pontal Instituto Cultural em Marabá abriram suas portas para receber exposições como “Ponto a Ponto” e “Em Composição”. A diversidade de estilos e temáticas reforçou a identidade plural do projeto, atravessando linguagens e territórios de maneira horizontal.
Desafios e resistência

A produção de arte na periferia da Amazônia é um ato de resistência. Espaços culturais independentes, como Na Casa do Artista, enfrentam diariamente desafios financeiros, logísticos e de reconhecimento. “Trabalhar com arte fora dos centros urbanos é saber que, muitas vezes, nós mesmos temos que criar as oportunidades”, reflete Werne. “Expandir essas atividades e se conectar com outros espaços é uma estratégia para fortalecer essa rede.”
Durante a itinerância, o projeto se deparou com artistas e gestores culturais que mantêm suas portas abertas sem apoio público regular. Em Quatipuru, a Galeria Direitos Humanos e acolheu o projeto e realizou a exposição “Arte e Democracia”, no município também se uniu à rede, o espaço Monóluco da Vovó. Em Marabá, o Pontal Instituto Cultural, com sua rica história de arte, serviu de palco para encontros transformadores.
Um olhar para o futuro

Com o vídeo agora acessível no YouTube, o projeto lança uma provocação: como seguir fortalecendo esses espaços sem políticas culturais estruturantes? Werne Souza acredita que o “Arte de Casa em Casa” é apenas o começo de uma articulação maior.
“Esperamos que essa iniciativa abra caminhos para mais intercâmbios e mais visibilidade para os artistas que estão fora dos eixos tradicionais”, diz. “Se conseguirmos fortalecer Na Casa do Artista e os espaços que encontramos pelo caminho, teremos dado um passo importante.”
O documentário final faz uma retrospectiva, mostrando as exposições, obras e encontros, além de depoimentos de artistas e coordenadores que fizeram parte desse percurso. Fica também, como o convite deles para que a gente conheça, frequente e apoie essa rede de arte.
Veja: O vídeo está disponível no YouTube, mas você já acessa a seguir.