A cultura e o conhecimento do povo Mebêngôkre-Kayapó, etnia que habita territórios no norte e centro-oeste do Brasil, têm ganhado cada vez mais visibilidade por meio das ações de seus comunicadores.
Comunicadores indígenas Kayapó são protagonistas na criação de conteúdo para chamar a atenção para os desafios enfrentados pelo povo e valorizar sua cultura.
O Coletivo Beture, um grupo de cineastas Mebêngôkre-Kayapó que vem atuando desde meados de 2016, deu mais um passo para amplificar ainda mais suas vozes. Entre os dias 7 e 23 de novembro, realizou-se um grande encontro de comunicadores com atividades de formação audiovisual e comunicação e a realização da Assembleia Geral do coletivo.
O evento foi realizado na aldeia Moikarakô, na Terra Indígena Kayapó, no município de São Félix do Xingu. Na ocasião, estiveram reunidos jovens indígenas Mebêngôkre-Kayapó de diversas aldeias e gerações com o objetivo de aprimorar as técnicas e fortalecer sua união para dar visibilidade à cultura Kayapó e à luta por direitos, através da comunicação e da linguagem audiovisual.
O cineasta Bepunu Kayapó, cacique da aldeia Moikarakô, destacou o constante interesse dos comunicadores indígenas em dominar essas técnicas. “Cada vez mais temos jovens e comunidades que se envolvem hoje com as oficinas de audiovisual”, disse.
Com mais de 15 anos atuando no cinema indígena e com diversos filmes produzidos, Bepunu é o primeiro cineasta Kayapó desta nova geração, e um dos membros fundadores do Coletivo Beture. Ele foi um dos oficineiros do projeto de capacitação desenvolvido em etapas ao longo de dois anos, pela Associação Floresta Protegida, entidade que representa mais de quarenta aldeias Kayapó do Pará. O projeto tem apoio do Fundo Amazônia.
Beptemexti Kayapó, cineasta que começou em 2019 no Coletivo Beture como aprendiz, agora é um dos formadores. Ele também ministrou oficina aos novos comunicadores. Dos 20 formadores ou oficineiros do projeto, 14 são indígenas, sendo a maioria do próprio Coletivo Beture. Os mais experientes são agora multiplicadores, capacitando outros jovens indígenas como cineastas ou comunicadores.
A comunicação em defesa do território

Para o artivista Matsi Waura Txucarramae, da aldeia Piaraçu, do Mato Grosso, comunicador do Instituto Raoni e do Coletivo Beture, o conhecimento em comunicação e no audiovisual tem um peso importante na defesa do território.
“A gente carrega isso com a gente desde a nossa ancestralidade, de poder existir, de dar continuidade à nossa cultura.” Ele ressaltou o intercâmbio com indígenas de outras aldeias que se reuniram no encontro: “A gente tem como objetivo ocupar os espaços artísticos, espaços de cinema, para poder mostrar que os povos indígenas ainda existem no Brasil e, com isso, garantir os nossos direitos.”
A cineasta Nhakmô Kayapó, primeira mulher a integrar o Coletivo Beture, expressou o desejo de que o coletivo apoie a educação e formação de cineastas nas universidades: “Queremos adquirir os conhecimentos dos kuben (não indígenas) e retornar às nossas comunidades para contribuir com maior propriedade”.
Ireprynganhti, cineasta da Aldeia Moikarakô, foi eleita representante legal do Coletivo numa diretoria formada por três mulheres e dois homens. Ela destacou a importância da crescente participação das mulheres no coletivo: “Encorajamos todas a ocuparem esse espaço, superarem a vergonha de falar e participarem genuinamente”.
Simone Giovine, cineasta e ativista que vem acompanhando a formação do Coletivo Beture desde o início, ressaltou o impacto da ação dos comunicadores dentro do território: “Durante um ano foram realizadas 17 formações em 17 diferentes aldeias, foram construídas 17 casas de mídia, ou casas do Beture, como os Kayapó denominaram, com kits de audiovisual, sistemas fotovoltaicos e acesso à internet.
Um passo à frente em autonomia

Mais de 80 jovens aderiram ao movimento, com uma grande participação de mulheres, e, durante todo o ciclo, foram produzidos mais de 50 filmes. Ele diz ainda que “a assembleia do Coletivo Beture foi, enfim, um marco histórico, pois marcou a formalização do Coletivo como Associação e deu um passo à frente para sua autonomia e fortalecimento do seu movimento.”
O encontro na aldeia contou ainda com o apoio do Fundo Podaali, cuja atuação tem sido fundamental no fortalecimento de iniciativas indígenas em todo o país.
O encontro em Mojkarakô destacou que a demarcação das telas é tão essencial quanto a defesa das terras indígenas. O audiovisual surge como um ato político, afirmando a resistência dos povos originários por meio de narrativas próprias.
Sobre o Coletivo Beture
O Coletivo Beture é formado por comunicadores indígenas do povo Kayapó que atuam na promoção e valorização da cultura Mebêngôkre. Através da produção audiovisual e outras formas de expressão artística, busca visibilizar e potencializar a voz das comunidades indígenas, defendendo os territórios e direitos.
Mais informações: Instagram pelo perfil @coletivobeture.
Fotos na galeria: Bepkue Kayapó
Reportagem: Railídia Carvalho e Ângela Gomes