O Festival Psica, mais uma vez, proporcionou uma experiência que vai além de um show. A sexta-feira da semana passada foi marcada por vários encontros no centro histórico de Belém, encontros que rolaram no palco e também na plateia, onde o público misturava jovens de várias gerações, todos atravessados pela emoção de ver a história viva da música brasileira bem ali no Rio Voador, no Píer da casa das Onze janela, em Belém do Pará.
Cátia de França é, por si só, um universo. Essa paraibana, que traduz a literatura brasileira em música como poucos, traz na bagagem álbuns icônicos como 20 Palavras ao Redor do Sol (1979) e Estilhaços (1980).
Em cada acorde, em cada verso, ela constrói pontes entre o sertão e o mundo, entre o forró e o blues, com uma fluidez que é toda dela. Seu jeito é quase didático, como se, ao tocar e cantar, ela estivesse nos guiando por uma aula de história e sensibilidade nordestina.
E então vem Amelinha, essa cearense de Fortaleza que nos anos 70 e 80 ajudou a moldar o som da MPB com sua voz imensa. Quem, afinal, não conhece “Frevo Mulher”? Uma canção que é quase um grito coletivo, hino de carnavais e encontros no meio da rua. Ou “Foi Deus Quem Fez Você”, um sussurro que ainda faz eco em casais enamorados.
Amelinha traz em si a força das palavras de Belchior e Zé Ramalho, mas também a delicadeza de quem interpreta e reinventa, sem nunca perder a essência.
No Festival Psica, as duas dividiram o palco em um show que foi além da música — foi um encontro de tempos, memórias e estéticas. A energia do público foi contagiante e emocionou as artistas. E foi assim durante os três dias de programação, com mais de 50 atrações. Em um momento em que se fala tanto sobre preservar tradições, mas também inovar, o Psica desempenha um papel fundamental ao se tornar esse ponto de convergência.
Cátia de França, aos 50 anos de carreira, segue ativa, com o recente álbum No Rastro de Catarina (2024), que lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino. Já Amelinha continua encantando os palcos do Brasil com shows que revisitam sua obra e trazem novas interpretações, provando que a música é um terreno em constante transformação.