Na Amazônia, a moda não é e nem deve ser apenas tendência. Narrativa, pertencimento e resistência são três conceitos em alta, isso porque, na minha opinião, não basta vestir corpos. A criação autoral na região se amplia quando veste histórias, símbolos e modos de existir profundamente conectados com a floresta, os rios e os povos que habitam esse território.
Nos últimos anos, esse movimento tem ganhado novas roupagens, impulsionado por coletivos, estilistas e marcas que, além da estética, assumem compromissos éticos com a sustentabilidade e a educação.
É nesse contexto que surge a Aracê, marca de camisetas autorais que nasceu de um núcleo familiar, mas que pretende se abrir a parcerias e diálogos. A proposta vai além do produto: busca construir uma ponte entre gerações, saberes tradicionais e expressões contemporâneas da arte amazônica.
No dia 3 de junho, com uma programação cultural especial, a Aracê lança sua segunda coleção no Espaço Na Figueiredo, em Belém. O projeto, que surgiu há apenas três meses, reforça seu compromisso com a valorização da identidade amazônica, a educação e a sustentabilidade.
Tudo começou com um convite feito pelas irmãs Inês e Adriana Silveira aos sobrinhos Thalis Silveira e Zélio Bezerra, ambos artistas visuais e designers gráficos. Juntos, eles conceberam uma proposta que valoriza símbolos e mitologias da Amazônia, como o Curupira — guardião da floresta — e a flecha, instrumento de resistência e defesa.

“A Aracê se consolida como um projeto afetivo e intergeracional, onde ancestralidade e contemporaneidade se encontram”, afirma Inês Silveira, turismóloga e produtora executiva da marca.
A nova coleção trará ilustrações e narrativas gráficas produzidas com o cuidado artesanal, uma característica da marca, em parceria com a Na Fábrica e a loja Na Figueiredo, reconhecidas pelo trabalho com algodão de qualidade e pelo vínculo afetivo com os produtores locais.
“Aracê significa ‘aurora’ em tupi, convidamos a um novo olhar sobre a Amazônia, evocando as suas forças ancestrais e naturais”, reforça Inês.
No lançamento, o público poderá conhecer as novas criações e participar de um momento de celebração dessa trajetória que une família, arte, cultura e moda.

“Esse é o terceiro mês que a gente está trabalhando com a produção, desde o dia que pensamos na criação da marca”, conta Adriana Silveira, que integra a equipe Aracê e é responsável pela organização do empreendimento.
Segundo ela, o lançamento da primeira coleção ocorreu ainda no segundo mês de trabalho, e o projeto segue em processo de construção. “Muita coisa, claro, ainda vai ser mudada, mas a gente entendeu uma coisa que é super importante desde o primeiro dia: a marca deve fortalecer cada vez mais a sua identidade amazônica.”
A proposta da Aracê está alicerçada em dois pilares principais: a educação e a sustentabilidade. Educadora há mais de duas décadas, Adriana afirma que sua trajetória na escola pública da Terra Firme, bairro de Belém, foi determinante para incorporar a dimensão educativa ao projeto.
“Dificilmente eu conseguiria ir para uma outra área de trabalho e deixar de lado o propósito de ser educadora. A partir disso, a conversa também cambou para esse lado da educação como um dos pilares do trabalho que a Aracê possa vir a desenvolver”, completa Adriana.
Outro compromisso central da marca é com a sustentabilidade, entendida em múltiplas dimensões. “Não daria pra gente lançar uma marca que tenha uma identidade amazônica e não pegar esse viés. É compromisso, é necessário, é urgente”, enfatiza Adriana.
O olhar artístico de Zélio Bezerra

Um dos artistas e designers da marca, Zélio Bezerra imprime nas estampas da Aracê sua sensibilidade e fascínio pela cultura amazônica. “Eu geralmente penso num conceito inicial e depois deixo fluir da maneira mais livre e espontânea que consigo. A Amazônia como um todo me inspira, afinal é um tema muito rico e abrangente”, explica.
Zélio destaca que o folclore tem grande apelo em seu processo criativo, uma influência que remonta à infância:
“Como fã fervoroso do Catalendas durante a infância, geralmente as minhas escolhas vêm relacionadas aos mitos e lendas da nossa região”, diz, se referindo ao programa exibido pela TV Cultura do Pará. “Mas a inspiração pode vir de qualquer coisa — desde árvores ou frutos até conceitos mais abstratos”, complementa.
A experiência de atuar ao lado das tias Inês e Adriana também marca sua trajetória de forma positiva. “Trabalhando com as minhas tias eu tenho muito mais liberdade criativa e incentivo pra fazer um bom trabalho, imprimindo o máximo de mim nas obras, o que me deixa imensamente satisfeito e feliz com os resultados”, revela.
Zélio também aposta na Aracê como um projeto que fortalece a cena criativa na região. “Acredito que fortalecendo a cena na região nós conseguimos inspirar mais pessoas a abrir um negócio ou se manifestar artisticamente, criando um ecossistema criativo onde cada vez mais da nossa cultura vai sendo mostrada pro mundo, gerando mais investimentos em artistas locais — que são muitos!”, afirma.
Sobre a expectativa para o lançamento da nova coleção, Zélio não esconde a empolgação: “Quem realmente gostou das primeiras vai curtir muito o que vem pela frente! Nosso foco continua sendo a Amazônia, então vamos seguir nessa jornada, melhorando cada dia mais e mais.”
Serviço
Anotem: o lançamento da nova coleção Aracê, no próximo dia 3 de junho, às 19h, no Espaço Na Figueiredo (Av. Gentil Bittencourt, 449 – Nazaré, Belém-PA), contará também com apresentações musicais.