Reunião durou quase 3 horas, no auditório Eneida de Moraes. Foto: Holofote Virtual

Artistas e Secult: protagonismo e espaço à cultura amazônica na Conferência das Nações Unidas em Belém

Produtores culturais e artistas paraenses se reuniram nesta quarta-feira, 29, no auditório Eneida de Moraes, no Palacete Faciola, na capital do Pará, com a secretária de cultura Ursula Vidal. Estiveram presentes ainda o Secretário André Godinho, da secretaria especial da COP 30, pela prefeitura, e o Presidente da Fundação Cultural do Pará, Thiago Miranda. Na pauta, o protagonismo cultural amazônico antes, durante e depois da COP 30,

A reunião foi provocada por um grupo de artistas e produtores culturais que trouxeram propostas à pauta da programação cultural do evento, que será sediado em Belém, recebendo projetos e atividades diversos, mas ainda não há agendas confirmadas com artistas e produtores locais.

Houve a leitura de um documento encaminhado no ano anterior à Secretaria de Cultura, solicitando um diálogo sobre a pauta. Os artistas e produtores culturais de várias linguagens representando grupos e coletivos da cultura popular, hip hop, economia criativa, música e eventos diversos estiveram presentes e expressaram preocupação com a falta de um planejamento claro que garanta espaço para as manifestações culturais locais.

“A COP 30 é um evento gigantesco, mas qual é o real espaço que os artistas e produtores culturais do Pará terão? Precisamos de um compromisso claro de que nossa cultura será representada de forma digna e não apenas em espaços marginais.”, disse Renee Chalu, destacando a falta de financiamento e estrutura para os artistas locais.

Adelaide Oliveira reforçou a urgência de um planejamento cultural mais inclusivo: “Não podemos ser apenas espectadores na nossa própria cidade. A cultura amazônica precisa estar no centro da COP 30, e isso só será possível com financiamento adequado, edição de editais exclusivos e a garantia de que os artistas locais serão protagonistas nesse evento.”

Estiveram presentes representantes de projetos e festivais, como o Circular Campina Cidade Velha, Festival da Canção da Transamazônia, Festival Se Rasgum, o Sonido Circuito Mangueirosa e o Festival Clara Pinto.

Também participaram associações culturais de municípios como Abaeté e a diretora de cultura do município de Oeiras do Pará, além da Associação Cultural Na Cuia, formada por jovens comunicadores LGBTQIA+, conselheiros de cultura e representantes de pontos de cultura.

Manifestações culturais tradicionais foram representadas por guardiãs de pássaros juninos, grupos parafolclóricos, escolas de samba e o Baile dos Artistas. O encontro contou ainda com a presença de fotógrafos, iniciativas das artes cênicas e produtores da Soma Música, reforçando a diversidade e a riqueza do cenário cultural presente na reunião.

Conheça algumas das propostas à secretaria:

  • A criação de uma comissão de cultura, composta por representantes de diversos setores culturais, para construir uma agenda cultural da COP 30 em parceria com o poder público;
  • O lançamento de editais exclusivos para artistas e produtores locais, assegurando financiamento direto a projetos amazônicos;
  • O mapeamento dos eventos já calendarizados na cidade, garantindo sua integração ao cronograma da COP;
  • Ações de capacitação para profissionais da cultura visando preparação para atuar nos eventos;
  • O uso prioritário de espaços culturais e centros públicos para atividades artísticas e culturais locais.

A complexidade da Governança da COP 30

As Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COPs) vão além das negociações diplomáticas, sendo também espaços para manifestações culturais. A integração da cultura nesses eventos varia conforme o país-sede e a organização local.

Em edições anteriores, como a COP 21 (Paris), houve uma forte presença cultural, com exposições e intervenções artísticas, enquanto a COP 26 (Glasgow) destacou vozes indígenas. Já na COP 27 (Egito), a participação cultural foi mais limitada, gerando críticas. Em Belém, a organização deve garantir que os agentes culturais participem ativamente desse encontro global.

As próximas discussões entre governo e fazedores de cultura serão determinantes. O desafio é transformar a conferência em uma vitrine para a cultura amazônica, garantindo que sua voz e suas manifestações artísticas estejam no centro do debate global sobre sustentabilidade.

Na reunião com artistas e produtores, Úrsula Vidal apresentou esclarecimentos sobre a estrutura e os desafios da COP 30 em Belém. Em sua exposição, Vidal detalhou os mecanismos de funcionamento do evento, a logística da cidade durante a conferência e as oportunidades e limitações para a participação da cultura local na programação oficial.

A secretária explicou que a organização da COP 30 envolve diferentes esferas governamentais e instituições internacionais. “A COP é um evento global, e sua governança é compartilhada entre a ONU, o governo federal, o governo estadual e a prefeitura de Belém. Cada um tem responsabilidades específicas e limitações sobre o que pode ser deliberado”, destacou.

Ela ressaltou que a zona oficial da conferência será dividida em duas áreas principais: a “Blue Zone”, controlada integralmente pela ONU e restrita a delegações oficiais e negociadores, e a “Green Zone”, sob responsabilidade do governo federal, destinada às iniciativas da sociedade civil. “Dentro dessas áreas, a programação segue protocolos internacionais, o que exige negociações específicas para garantir espaço para a cultura local”, explicou Vidal.

A logística e o impacto na cidade

Um dos pontos centrais abordados pela secretária foi a estrutura de mobilidade e segurança que será implementada durante a conferência. “A cidade de Belém passará por bloqueios e restrições de trânsito em determinados períodos. Algumas vias serão fechadas, principalmente nos dias de chegada dos chefes de Estado e durante as negociações climáticas”, afirmou a secretária.

Além disso, Vidal mencionou a necessidade de preparar a cidade para receber um grande volume de visitantes: “Estamos falando de cerca de 50 mil pessoas vindas de diferentes partes do mundo. Isso exige uma estrutura robusta de hospedagem, transporte, saúde e alimentação. A preocupação com a segurança será prioritária, e isso pode impactar a ocupação de espaços culturais e a realização de eventos paralelos.”

As próximas discussões entre governo e fazedores de cultura serão determinantes para definir como a cena cultural paraense será representada na COP 30. O desafio é transformar a conferência em uma vitrine para a cultura amazônica, garantindo que sua voz e suas manifestações artísticas estejam no centro do debate global sobre sustentabilidade.

Ao final da reunião, a Secretaria de Cultura se comprometeu a estabelecer um Grupo de Trabalho (GT) com representantes dos fazedores de cultura para acompanhar as discussões e garantir a inclusão das manifestações artísticas locais na programação da COP 30.

Ficou acordado também o lançamento de editais específicos para artistas e produtores culturais, bem como a criação de uma agenda de encontros periódicos para monitoramento das ações.

Ações apresentadas pela Secult-Pa

  • A criação de um mapeamento de espaços públicos e culturais disponíveis para eventos paralelos;
  • A negociação de parcerias com organizações nacionais e internacionais para viabilizar financiação e apoio a projetos locais;
  • A implantação de uma plataforma digital que facilite a organização da agenda cultural durante a COP 30;
  • A formação de um Grupo de Trabalho (GT) para acompanhar a inclusão da cultura paraense na conferência.

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