Onde nascem as histórias: Raimundo Lima lança campanha por leitores e contadores em Icoaraci

Já ouviu falar da campanha Madrinha e Padrinho Literário? Senta e leia essa história. Pode ser que, no fim, você ou a sua instituição também deseje apadrinhar um livro. “O Pedido de Almi” é o segundo livro de Raimundo Lima e foi lançado este ano de forma colaborativa e independente, graças a essa rede.

O gesto, simples à primeira vista, traz como missão, formar leitores dentro da comunidade e reconhecer os contadores de histórias como educadores da sensibilidade. “Quero que essas histórias cheguem às crianças do bairro onde eu moro, onde trabalho, onde vivo”.

A ideia deu certo e ele, que imaginava que conseguiria uns 20 ou 25 padrinhos, conseguiu 30. “Foi uma maravilha. Cada livro entregue é uma esperança”, celebra Raimundo. E com o apoio de amigos e leitores, ele percorre escolas de Icoaraci e em outros cantos da cidade promovendo sessões de leitura e rodas de conversa com os pequenos.

O primeiro livro de Raimundo nasceu da  contação. Tesouro no Jardim foi criada em 2009 para ser contada durante o Fórum Social Mundial em Belém, e só depois de muitos anos a história virou livro. “Ali já estava o desejo de transformar palavras em sementes”, lembra o autor

Lançado em 2024, editado pela Amo! Editora, a narrativa gira em torno do jardim da avó, onde se encontra muito mais do que plantas ou flores — há um “tesouro” simbolizando os valores simples da memória afetiva.

Já o Pedido de Almi, esse menino que você vêem na ilustração, é uma fábula que fala de respeito, pertencimento e da força de ser diferente. Na obra, o rio é quem escuta um menino inquieto que não entende seu lugar no mundo. É o rio que acolhe, que ensina.

O livro, desde a capa, ilustrado por Leonardo Dressant – que também assina a diagramação – traz delicadeza e convida leitores de todas as idades a refletirem sobre empatia, diversidade e aceitação, temas urgentes.

E é exatamente esse o espírito que movimenta a campanha Madrinha e Padrinho Literário, um chamado coletivo para financiar a impressão de mais unidades do livro que, em parceria com escolas, chegarão às mãos das crianças. E não sem uma boa contação e brincadeiras.

Do Solimões à Vila Sorriso

A trajetória de Raimundo Lima é feita de travessias — não apenas geográficas, mas existenciais. Ele carrega a Amazônia para além paisagem, é matéria viva de seu ofício com a palavra.

Natural do interior do Amazonas, Raimundo cresceu com os ensinamentos do pai e de seu avô. Passou pelo Magistério, foi seminarista, formou-se em Filosofia. Chegou a integrar por três anos o processo de formação religiosa franciscana.

Já vivendo em Santarém, ele também foi aluno por dois anos de Wilson Fonseca, o Mestre Izoca. “Tive a imensa alegria de ser seu aluno de musicalização”, recorda Raimundo.

Em Belém, ainda formou-se em Ciências da Religião, o que o ajudou a lapidar sua prática como educador e narrador, até que foi levado em missão ao Sertão cearense para cuidar de pessoas idosas e doentes. Ali, ele teve o sinal que aguardava para tomar uma decisão. “Ali eu entendi que era hora de começar uma nova história”, diz. E foi o que fez.

Depois da experiência no Ceará, ao retornar a Belém, sua vida deu uma guinada. Ele passou a ministrar aulas de música e mergulhou no universo da educação e da arte como instrumentos de transformação social.

“Eu sempre me via mais artista que um religioso. Tudo que fazia quando atuava na pastoral estava atravessado pela arte”, reflete. Aos poucos, a contação de histórias ganhou espaço em sua vida, integrando corpo e voz.

De volta ao Pará, Raimundo fincou raízes em Icoaraci, distrito de Belém, onde há mais de vinte anos atua como educador, artista e mobilizador cultural. Nas escolas, nas praças, nas bibliotecas, ele promove rodas de leitura, oficinas de música e sessões de contação de histórias — um trabalho essencial.

Outras ideias literárias …

Raimundo integra movimentos de Contadores de Histórias e atualmente prepara a criação de um Centro de Formação em parceria com a atriz Patrícia Rodríguez, da Koringa Escola de Arte. Ele sonha também com o primeiro Festival de Contação de Histórias de Icoaraci.

Na Vila Sorriso, terra do Pé Redondo, como é também conhecida Icoaraci, dentro da região metropolitana de Belém, a cultura se mistura em um espaço de turismo. E em meio aos desafios sociais, inúmeros, Raimundo Lima insiste em plantar outras formas de futuro. Faz isso com palavras, melodias, encontros. “Quero que as crianças se reconheçam nas histórias.”

Serviço
Para apoiar a campanha “Madrinhas e Padrinhos Literários” e conhecer o trabalho de Raimundo Lima:
Instagram: @dlima_raimundo
Contato: (91) 98610-3304

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