Após duas exposições que marcaram diferentes estágios e expansões visuais, Simões retorna com um novo mergulho no território da cor, avançando com precisão e lirismo em suas nuances cromáticas. “A Pele da Cor – 3º Movimento” abre hoje, 4 de junho, às 19h, no Museu de Arte da UNAMA, com curadoria de Vera Pimentel.
A mostra traz cerca de 40 obras que reafirmam o percurso de um criador atento ao seu tempo, às formas e, sobretudo, às cores. Transitando entre gravura e pintura, geometria e emoção, Simões ocupa a Galeria Graça Landeira com um trabalho, que se estrutura como uma partitura visual onde matemática, música e arte plástica se encontram.
Nesta mostra individual o artista dá continuidade a uma pesquisa que transforma cor em linguagem e presença. Na instalação “Vibe do Coração em Pedaços”, um dos núcleos da nova mostra, Simões apresenta 13 gravuras digitais em molduras pintadas individualmente e mais 12 lâminas de papel Kraft em diversas cores que, também emolduradas.
Cada peça mede 33 x 33 cms, somando ao todo 25 peças que na composição da montagem ocupam um espaço de 1,81m x 1,81m. “As molduras são parte fundamental do conjunto com suas cores diversas e intensas”, afirma o artista. O conjunto revela como a cor, para ele, é pele e movimento – e nunca apenas preenchimento visual.
A exposição marca a terceira etapa da série “A Pele da Cor”, iniciada em outubro de 2022, com 40 pequenos formatos na Galeria Silveira Athias em Belém. A segunda edição, resultado do Prêmio Branco de Melo 2023, foi exposta de forma expandida, em abril de 2023, na Galeria Benedito Nunes, na Fundação Cultural do Pará.
Agora, a pesquisa visual atinge novos desdobramentos formais e conceituais, ampliada pelo diálogo com sete artistas convidados: Beatriz Melo, Chico Ribeiro, Dannoelly Cardoso, Erick Serrão, Galvanda Galvão, Maitê Nogueira e o coletivo O OUTRO. Eles ocupam a Sala Multiuso da galeria com criações que expandem e tensionam a proposta.
A Pele da Cor – 3º Movimento representa a metamorfose na trajetória artística de José Toscano Simões, como descreve Vera Pimentel. “Cada traço é um nervo, cada mancha, um batimento.”
Para ela, o artista atua como tradutor do invisível: transforma instinto em forma e gesto em campo de cor, com uma poética que transita do figurativo ao abstrato, sem fixar moradas. “Linhas e cores se tornam veias abertas, conduzindo o olhar com batimentos próprios.”
Simões não busca representação; sua arte revela o que muda — “o instante entre o gesto e a ideia”. Há ritmo em sua paleta. Há silêncio nas lacunas que também a compõem.
Como afirma a curadora, trata-se de uma arte que se move em espiral, emergindo do caos para reorganizar sentidos, convidando o público a um encontro sensível, onde a percepção também é matéria.
Simões realizou sua primeira exposição individual em 1976, aos 17 anos. Desde então, construiu uma trajetória marcada pela liberdade de criação e pela recusa aos enquadramentos fáceis. Nos anos 2000, afastou-se temporariamente do ateliê voltando, uma década depois à produção artística já em sua casa-ateliê na Ilha de Mosqueiro, onde desenvolveu séries como “Cerimônias Privadas” e a atual “A Pele da Cor”.
Para ele, arte é cor, matemática e música — uma equação sensível que escapa das convenções mercadológicas e institucionais, mas não as negando plenamente, simplesmente ele as atravessa e sobrevoa.
Em suas palavras, a arte “deve instigar a sensibilidade das pessoas, fazê-las experimentar novas sensações e o prazer de defrontar-se com linguagens instigantes”, descreve ele sobre sua abordagem. É uma “pintura retiniana”, voltada ao prazer visual, ao impacto da cor, à vibração entre a geometria e o acaso.
Na mostra atual, esse pensamento atinge maturidade. As obras não buscam significados fechados. Elas convidam à experiência. Como escreveu o próprio artista poucos dias antes da abertura:
“O que é bonito na arte é isso… começa com uma ideia, um esboço… novas ideias se somam… começa um movimento para materializar a ideia… de repente a gente se vê no meio da viagem… daqui a alguns dias é chegar no porto carregado de especiarias… e o povo em festa a acolher os artistas… girândolas iluminam o céu com lindas cores!”
Serviço
Exposição: A Pele da Cor – 3º Movimento. Abertura: 4 de junho de 2025, às 19h. Visitação: de 4 de junho a 29 de agosto de 2025. Local: Museu de Arte da UNAMA | Galeria Graça Landeira. Endereço: Av. Alcindo Cacela, 287 – Belém/PA. Entrada gratuita.