Alunos do ensino médio da Fundação Escola Bosque em protesto contra a extinção da instituição. Fotos enviadas por lideranças da comunidade.

Alunos da Fundação Escola Bosque protestam contra extinção da instituição e denunciam impactos na comunidade

Belém, 17 de março de 2025 – Em meio à incerteza sobre o futuro da Fundação Escola Bosque (Funbosque), alunos realizaram uma manifestação nesta segunda-feira pela manhã em frente à instituição, localizada na Ilha de Caratateua. O ato pacífico, organizado pelos próprios alunos, foi marcado por tentativas de intimidação e confronto promovidas por um grupo levado ao local para deslegitimar o movimento.

O protesto denuncia a falta de transparência na decisão da prefeitura de Belém, que tem como atual prefeito Igor Normando (MDB), em extinguir o modelo de ensino da Funbosque e transformá-la em uma escola municipal. Com cartazes e palavras de ordem, os jovens reivindicaram o direito a uma educação diferenciada e de qualidade, ressaltando que a Funbosque sempre foi uma referência em ensino ambiental e técnico na região insular de Belém.

A principal questão dos alunos é que as mudanças definidas sem diálogo com a comunidade escolar já estão trazendo impactos negativos no cotidiano dos estudantes. “Foi um choque para todos nós. Quando voltamos das férias, de repente recebemos essa notícia. A escola perderia sua identidade, os professores começaram a sair e os problemas estruturais aumentaram”, contou Gabriela Cardoso, 17 anos.

Entre os principais problemas enfrentados pelos alunos, estão a falta de professores, transporte escolar precário e a descontinuidade do ensino técnico, que exige estágio supervisionado para a obtenção do diploma. Segundo os estudantes, a saída de professores capacitados tem prejudicado o aprendizado e colocado em risco a continuidade de diversas turmas.

Protesto dos estudantes na manhã desta segunda-feira

Monique, 17 anos, ressaltou que a mudança compromete não apenas a formação acadêmica, mas também o futuro profissional dos estudantes. “Sem o estágio, não concluímos o curso. É um impacto enorme para todos nós. Os professores qualificados saíram, e isso nos afeta diretamente. Parece que querem simplesmente acabar com o nosso ensino médio sem dar nenhuma alternativa viável.”

Outro problema enfrentado é o transporte escolar. John Wesley, estudante da escola desde 2019, contou que a falta de manutenção dos ônibus tem dificultado o deslocamento dos alunos. “Os ônibus quebram no meio do caminho, chegamos atrasados e perdemos aula. Além disso, não temos segurança sobre o que vai acontecer com nossa escola nos próximos meses.”

Tentativa de silenciamento e intimidação

Guarda Municipal tenta impedir o protesto

Durante a manifestação, um grupo de comunitários foi levado ao local com o objetivo de provocar e desestabilizar os estudantes. Entre eles, estavam pessoas ligadas a famílias com histórico de envolvimento em crimes ambientais, grilagem de terras e outras atividades irregulares na região. O grupo chegou com carro som e começou a acusar os estudantes de serem manipulados.

“O mais grave é que a Guarda Municipal foi acionada para proteger essas pessoas, enquanto os alunos, muitos deles menores de idade, ficaram desprotegidos”, denunciou um dos apoiadores do movimento. Mesmo sob provocação, os estudantes permaneceram firmes, defendendo seu direito à educação e denunciando a falta de transparência da prefeitura no processo de reestruturação da escola.

Entre os manifestantes estava Regina Coelho, ex-aluna do EJA (Educação de Jovens e Adultos) e exemplo do impacto social da Funbosque. Após anos fora da escola, Regina conseguiu retomar os estudos e este ano concluirá o Ensino Médio Técnico em Meio Ambiente. Ela já está se preparando para o Enem, mirando o ingresso no ensino superior.

“Regina representa tantos outros alunos que, sem a Funbosque, talvez não tivessem uma segunda chance na educação. A escola sempre teve um papel fundamental em acolher pessoas que enfrentaram exclusão social e ajudá-las a projetar um futuro melhor”, destacou uma professora que acompanha a estudante.

A história dela reforça o que os alunos vêm denunciando: a escola não apenas formava tecnicamente, mas oferecia oportunidades reais para jovens e adultos, que agora correm o risco de perder esse direito.

Um desastre para a comunidade

Além do impacto direto sobre os alunos, a mudança na Funbosque também afeta toda a comunidade da Ilha de Caratateua. Como a escola atende estudantes de várias ilhas, sua conversão em escola municipal reduz a oferta de ensino médio na região e sobrecarrega outras instituições que já operam no limite de sua capacidade.

“A gente não está lutando só por nós. A Funbosque sempre foi um espaço de referência. Tirar essa estrutura significa impedir que mais alunos da nossa comunidade tenham acesso a uma educação diferenciada e de qualidade”, afirmou Monique.

Os estudantes também criticam o que consideram ser uma contradição nas políticas públicas. “Estamos no ano da COP 30, onde Belém será palco de discussões sobre meio ambiente, e ao mesmo tempo estão desmantelando uma escola com foco ambiental. Isso não faz sentido”, apontou Gabriela.

Mesmo diante da concretização da extinção da fundação e das mudanças na escola, os alunos garantem que continuarão se mobilizando para que a decisão seja revista ou que, pelo menos, haja uma alternativa real para que o ensino técnico e a metodologia diferenciada da Funbosque sejam preservados.

“O ensino médio já foi ameaçado em 2018 e conseguimos reverter. Agora, estamos lutando de novo porque não aceitamos perder nossa escola sem resistência”, disse John Wesley.

Os estudantes pedem maior visibilidade para sua causa e cobram posicionamento de autoridades e da mídia. “Nossa voz precisa ser ouvida. Estamos tentando mostrar o outro lado dessa história, porque até agora só deram espaço para a versão oficial, e a realidade dos alunos e da comunidade não foi considerada”, destacou Monique.

A manifestação desta segunda-feira , de acordo com os estudantes, este é apenas o começo. Nos próximos dias, eles planejam buscar apoio de parlamentares, organizações da sociedade civil para ampliar o alcance da sua luta.

O Holofote Virtual segue acompanhando os desdobramentos. Para entender um pouco mais acesse também: Extinção da Funbosque

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