O espetáculo “Circo e Carimbó”, da Companhia de Circo Nós Tantos, mistura circo, teatro e carimbó para celebrar a cultura popular do Norte. Nesta quinta (6), a terceira temporada chega ao fim com apresentações para crianças nos bairros Benguí e Tapanã, em Belém. O projeto tem apoio do Edital de Multilinguagens da Lei Aldir Blanc, da FUMBEL, e tem levado arte e reflexão para escolas e comunidades da região.
Criado pela Companhia de Circo Nós Tantos, o espetáculo mergulha nas tradições culturais paraenses, trazendo à cena a história de Zé e Chico, dois personagens ribeirinhos que, após sofrerem os impactos de um modelo predatório de desenvolvimento em suas comunidades no interior do Pará, decidem buscar um novo caminho na capital. A trama, repleta de memórias e reflexões, explora o cotidiano da vida ribeirinha e o enfrentamento das contradições da urbanização na Amazônia.
Em entrevista ao Holofote Virtual, o coordenador do projeto, Yure Lee, explicou que o espetáculo busca valorizar a cultura popular e os saberes ancestrais, com uma linguagem acessível a todos os públicos. “A principal mensagem que buscamos passar é sobre a valorização da cultura, dos saberes ancestrais, da floresta e da natureza”, afirmou. “Tratamos tudo isso de maneira lúdica, divertida, sem ser rígido, para que qualquer pessoa, independente da faixa etária ou nível de formação, consiga entender essas questões.”
Yure também destacou a importância da reflexão sobre a repressão às manifestações culturais populares, um tema presente no espetáculo. “Falamos, por exemplo, do Código de Postura de Belém e das Constituições do Arcebispado da Bahia, que proibiam a cultura popular, como o carimbó e o samba”, disse.
A relação com as comunidades é, para ele, um dos maiores pontos fortes do projeto, que se identifica com as manifestações culturais locais, como o hip-hop e o próprio carimbó. “O circo tem essa coisa de ser popular, da periferia, assim como o carimbó, que é uma manifestação da rua”, explicou.
Carimbó e Cultura Popular

O carimbó ocupa um papel central na narrativa do espetáculo, já que os protagonistas Zé e Chico são um agricultor e um ribeirinho do interior do Pará, cujas vidas são devastadas pela chegada da grande cultura capitalista. Através do carimbó, eles buscam preservar a memória de suas raízes e contar as histórias do homem da floresta.
“O espetáculo é muito sentimental, trazemos nossas histórias, nossas experiências e aquilo que nossos avós nos deixaram”, disse Yure. Ele também ressaltou que, ao longo de suas temporadas, o espetáculo tem conquistado o público. “Ele tem esse apelo forte por tratar do Amazônida, do povo paraense. As pessoas se sentem muito próximas e amam a nossa história.”
Com uma trajetória que começou em 2021, o espetáculo já percorreu diversas localidades, incluindo festivais e intercâmbios culturais, como a apresentação em Macapá (AP). Em 2023, a trupe fez apresentações em diversas ilhas de Belém, como Mosqueiro, e as crianças da região adoraram. “Foi uma experiência muito bacana, as crianças se sentiram muito próximas, foi um momento de muito afeto e identificação”, contou Yure.
Conheça mais da história e personagens
Zé, agricultor expulso de suas terras por grileiros e pistoleiros, e Chico, pescador cuja vida foi devastada pelo despejo de mercúrio por garimpeiros ilegais, chegam a Belém cheios de esperanças. Chico sonha em conhecer a maior feira livre a céu aberto da América Latina, o “Ver-o-Peso”, enquanto Zé tenta corrigir seu amigo, com seu jeito irreverente. No entanto, eles logo percebem que, na cidade, a arte também enfrenta dificuldades: são proibidos de tocar carimbó nas ruas.
A luta de Zé para libertar Chico, preso por tocar carimbó, culmina com a grande vitória de ver o carimbó reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro, permitindo-lhes finalmente tocar suas músicas nas ruas. A narrativa celebra a memória coletiva e o carimbó como uma ferramenta de resistência cultural, com letras que falam da vida no campo e das alegrias da infância.
Serviço
O espetáculo “Circo e Carimbó”. Confira o calendário de apresentações:
06/02 – 10h – Escola Nossa Sra. Guadalupe (Rod. do Tapanã, 1815 – Tapanã
06/02 – 14h – Movimento República de Emaús (Av. Padre Bruno Sechi 17 – Benguí.
Ficha Técnica
Elenco: Gabi Alcântara, Diego Vattos, Rodrigo Ethnos e Yure Lee
Produção: Gabi Alcântara e Yure Lee
Criação artística: Yure Lee
Direção: Colaborativa
Direção musical: Rodrigo Ethnos
Intérprete de libras: Yan Almeida