A umbanda, como tantas expressões de fé de matriz africana e indígena, ainda é cercada por muitos estigmas — quase sempre fruto do desconhecimento. Quem nunca teve contato com seus rituais ou fundamentos, acaba construindo imagens distorcidas, baseadas em preconceitos históricos.
Basta, porém, um primeiro encontro para perceber que se trata de uma religião pautada na caridade, no acolhimento e no equilíbrio espiritual.
Aproveitamos o Circular Campina Cidade Velha realizado no início do mês para ir conhecer a Casa Ogum Beira Mar e Mamãe Oxum, no bairro da Cidade Velha. É lá, em um cantinho estreito, atrás do Mercado do Porto do Sal, que o espaço vem estreitando as relações, tornando-se parte viva do lugar.
A relação com o bairro, porém, é recente. A tenda teve início a partir do trabalho de caridade espiritual da coordenadora da casa, a Mãe Grande Jeise Lima, em uma pequena sala de sua própria residência, no bairro do Umarizal, há 15 anos.
Após dez anos, surgiu a ideia de promover eventos de rua para divulgar a cultura da umbanda. Nasceram, então, o Samba de Zé, a Varanda do Axé e, mais recentemente, o Terreiro Cultural — iniciativas que desempenham um papel fundamental na preservação da cultura afro-brasileira e na desmistificação das religiões sincréticas brasileiras, com raízes africanas e indígenas, como é o caso da umbanda.

Quem relata toda essa trajetória é Sâmia Batista, responsável pela comunicação da casa. “O maior ganho em abrir o espaço é a oportunidade de promover encontros marcados pela diversidade e acima de tudo pelo respeito nessa convergência de diferetes crenças religiosas.”
Além da divulgação do trabalho artístico de músicos, artistas visuiais e de amigos parceiros do espaço, esses momentos, construídos a partir da relação entre a casa de Umbanda, seus frequentadores e o público, se fortaleceram com a entrada da casa no projeto Circular Campina Cidade Velha, em 2021.
Na época, a sede do terreiro localizava-se na Travessa Gurupá, em frente ao Mercado do Porto do Sa. “A experiência foi muito boa, pois nos ajudou não apenas a divulgar a nossa cultura, como também a arrecadar fundos extras para os trabalhos de atendimento espiritual, que são sustentados pelos médiuns da casa.”
Diálogo com a comunidade

Além de Sâmia e do Pai pequeno, Haroldo Martins, a organização do espaço é feita, sobretudo, por mulheres: a coordenadora da casa, Jeise Lima; as mães pequenas, Priscila Lima e Sueli Lobato; e a cambona-chefe, Teresa Moreira. Para elas, a relação que o espaço mantém com a vizinhança é positiva e vem contribuindo para transformando toda a redondeza — entre o Mercado do Porto do Sal e o Beco do Carmo — em um lugar de bem-viver.
“Isso nos permite ampliar nossas ações em campanhas de solidariedade, em especial no Dia das Crianças e no Natal. A umbanda é muito conectada com a música, a culinária e as estéticas populares, e o bairro da Cidade Velha é esse lugar do encontro de culturas”, diz Sâmia.
A Casa Ogum Beira Mar e Mamãe Oxum recebe, quinzenalmente, aproximadamente 60 pessoas em busca de atendimento espiritual. Com muita fé, axé e dedicação, a casa funciona com consultas voltadas para quem busca orientação nas diversas linhas espirituais com as quais trabalha. Entre os atendimentos, destacam-se os dias de Preto Velho, dias de Caboclos, Pombagiras e Ciganos.
Informações: @tendaogumbeiramaremamaroxum