O Brasil vive um momento importante de investimentos crescentes na área cultural, aliás, uma das principais promessas de campanha do presidente Lula foi a valorização da cultura como política pública estruturante, o que vem aos poucos se cumprindo e, principalmente, se ajustando após um período mais emergencial de retomada, no início de seu governo.
A recriação do Ministério da Cultura, a implantação da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), editais via Rouanet específicos como a Rouanet Norte, têm como objetivo de fortalecimento de ações, de forma descentralizadas.
Nesse cenário, as estatais ganharam mais protagonismo, movimentando-se para ampliar o alcance e trazer projetos de fora do tradicional eixo Rio-São Paulo. Os editais do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e da Caixa Cultural são exemplos dessa mobilização: além de abrirem inscrições para ocupação de suas unidades, percorrem o país promovendo oficinas presenciais e formação para quem deseja participar.
A iniciativa, porém, ainda chega apenas às capitais. Em Belém, produtores de outros municípios como Marapanim, Santarém e Castanhal, entre outros, se deslocaram para participar, em abril e maio, das oficinas, demonstrando o desejo — e a urgência — de ocupar esses espaços.
As inscrições para o edital de patrocínio cultural do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), estão abertas só até a próxima segunda-feira, 26 de maio. Já a Seleção Caixa Cultural – aguardam inscrições até 13 de junho de 2025. As submissões são feitas exclusivamente pelas plataformas de cada estatal.
- Foto: Divulgação/Coletiva
Escuta, formação e reconhecimento de demandas
As oficinas reuniram artistas, produtores, mestres da cultura popular e empreendedores criativos para um mergulho detalhado nos editais e nas plataformas de inscrição. A oficina do CCBB apresentou as nuances do edital, mas foi, sobretudo, um espaço de escuta e acolhimento.
Foi ministrada por Regina Godoy e João Noronha, ambos com décadas de atuação na produção cultural, além da participação do gerente do CCBB de Brasília, André Giancotti.
“Percebemos muitas iniciativas de qualidade que não avançam porque as pessoas têm dificuldade principalmente com a escrita do projeto”, reforçou Regina, destacando a necessidade de transformar ideias potentes em propostas estruturadas e claras.
Entre as principais orientações repassadas aos participantes, destacam-se a leitura estratégica do edital, pois como vocês sabem a proposta deve ser construída alinhada aos objetivos do CCBB e da Caixa Cultural.
O CBB alerta que projetos que combinam várias linguagens são bem-vindos, mas a recomendação é identificar qual será o eixo principal para definir a natureza do projeto. “O CCBB é um território da arte, da cultura, e queremos ocupar esse território”, incentivou João.
Também em ambos os editais, é preciso ter conhecimento dos espaços: cada unidade do CCBB e da Caixa Cultural têm especificidades arquitetônicas e estruturais.
“É importante que o produtor conheça as dimensões e características de cada espaço para adequar sua proposta”, pontuou Regina, ministrante do CCBB, citando exemplos de exposições itinerantes que precisaram ser adaptadas a cada local.
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Ministrantes da oficina do CCBB. Foto: Holofote Virtual/Luciana Medeiros
Potências e o desejo por mais presença na região
As oficinas foram também um espaço para expressar frustrações históricas e reivindicar políticas mais estruturantes para a cultura da região. Um dos pontos mais enfatizados foi a ausência de uma unidade do CCBB no Norte.
“Por que a gente ainda não tem um CCBB aqui? Temos estrutura e potencial para isso”, questionou uma produtora local, provocando aplausos dos presentes. Os facilitadores reconheceram a legitimidade da reivindicação e informaram que há previsão de inauguração da unidade de Salvador em 2026, a primeira no Nordeste, mas que ainda não há previsão concreta para a região Norte.
A Caixa Cultura, que já ergue seu centro cultural no Porto Futuro II, à beira da baía do Guajará, reafirmou a inauguração do prédio em outubro.
O edital já disponibiliza a planta do espaço de ocupação, que inicialmente foi projetado mais às artes visuais, com possibilidade de receber propostas que tragam em seu escopo adaptações possíveis para apresentações de dança, teatro, música, por exemplo.
Se outros espaços da cidade poderão receber programação em outros formatos, via edital de ocupação Caixa, tal qual CCBB já aceita para Salvador, enquanto seu centro cultural não inaugura, também não ficou claro, mas também não foi descartada a possibilidade.
Outra preocupação recorrente em ambos os momentos foi o acesso restrito à informação por parte de mestres e mestras de comunidades tradicionais, quilombolas e ribeirinhas, muitas vezes sem familiaridade com processos digitais e com escassa interlocução com políticas públicas culturais.
“O banco tem esse interesse na capilaridade, mas nem sempre consegue chegar a todas as pessoas”, admitiu Regina, destacando que a realização das oficinas presenciais já é um esforço nessa direção.
Um relato feito sobre o risco de desaparecimento de manifestações como o Lundu do Marajó e o Carimbó quilombola do Abacatal reforçou o apelo por ações afirmativas que garantam o acesso dessas culturas aos editais nacionais.
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Foto: Holofote Virtual / Luciana Medeiros
Outro momento emocionante na oficina do CCBB foi quando fazedores relataram aos facilitadores a importância da valorização das manifestações locais, como o Teatro de Pássaros e a capoeira quilombola, expressões que geraram questionamentos sobre o enquadramento dessas linguagens dentro do edital.
A passagem das oficinas por Belém sinaliza uma mudança de postura e isso é consequências de décadas de articulação de fazedores e ativistas culturais das regiões norte.
Ainda há desafios de acesso e estrutura, mesmo assim, as oficinas lotaram e os fazedores se posicionaram, mostrando que uma coisa é certa: a potência criativa da região e urgência de mais políticas públicas que reconheçam e valorizem as culturas do Norte como centrais no cenário cultural brasileiro.
Como participar dos editais
Prazo/CCBB: até 26 de maio de 2025.
Inscrever: exclusivamente pelo site: bb.com.br/patrocinio.
Prazo/ Seleção CAIXA Cultural: até 13 de junho de 2025.
Inscrever: exclusivamente pelo site oficial: selecaocaixacultural.com.br
Unidades ativas do CCBB:
Rio de Janeiro (RJ) – desde 1989
Brasília (DF) – desde 2000
São Paulo (SP) – desde 2001
Belo Horizonte (MG) – desde 2013
Unidade em implantação:
Salvador (BA) – prevista para 2026
Unidades ativas da Caixa Cultural:
Brasília (DF)
Curitiba (PR)
Fortaleza (CE)
Recife (PE)
Rio de Janeiro (RJ)
Salvador (BA)
São Paulo (SP)
Unidade em implantação:
Belém (PA) – com previsão de inauguração para outubro de 2025, no complexo Porto Futuro II, à beira da Baía do Guajará, como parte da preparação da cidade para a COP30.