Hoje, mais do que nunca, a informação cultural está ao alcance de um clique. No entanto, em um mundo hiperconectado, onde as redes sociais inundam o público com uma avalanche de conteúdos, tornou-se desafiador entender de que forma comunicar eventos, tendências e abordar temas e entrevistas, manifestações culturais não atreladas ao factual. Como o jornalismo cultural pode se reinventar para curar e destacar a riqueza cultural em suas diversas formas, conectando pessoas aos movimentos artísticos e culturais de suas cidades?
Esses foram alguns dos temas que nortearam a conversa realizada nesta semana com alunos de comunicação da professora Raíssa Lennon, que ministra as disciplinas de Jornalismo Cultural e Núcleo de Redação Integrada I, para a turma de Jornalismo 2023 da Universidade Federal do Pará (UFPA). O objetivo foi trazer aos alunos uma realidade prática da área e do mercado.
“Essa conexão da universidade com a prática do Jornalismo é uma oportunidade para que os estudantes conheçam a realidade do mercado de trabalho e outros caminhos possíveis para se fazer um Jornalismo comprometido com responsabilidade social, ética e também com a valorização da cultura amazônica.”, disse a professora.
O jornalismo cultural deve ir além da divulgação de eventos ou produtos culturais, posicionando-se como um espaço de análise e reflexão. A cultura, afinal, não é apenas entretenimento. E sob essa perspectiva, discutimos a necessidade de um jornalismo que funcione como observatório crítico, conectando o efêmero ao simbólico, oferecendo ao público narrativas que informam e transformam.
O bate-papo reuniu estudantes curiosos e comprometidos em discutir o papel do jornalismo cultural no cenário atual. Compartilhei com eles experiências adquiridas ao longo de três décadas de atuação na área e sobre a criação, há 16 anos, do Holofote Virtual Comunicação, Arte e Mídia.
Trocamos ideias sobre como a prática pode se adaptar às transformações trazidas pelas redes sociais. Houve uma questão central: mesmo com o acesso facilitado às informações via redes sociais, o público ainda enfrenta dificuldades para encontrar conteúdos relevantes e atualizados sobre cultura.
Muitos relataram que, apesar de seguirem páginas e perfis especializados, a dispersão de informações em diferentes plataformas e a interferência dos algoritmos dificultam a navegação e o acesso contínuo às programações culturais.
Nesse contexto, discutimos o papel do jornalista cultural como curador e mediador. Mais do que simplesmente divulgar eventos, é importante selecionar, organizar e contextualizar informações, ajudando o público a encontrar sentido em um mar de conteúdos.
Inclusão, acessibilidade e valorização da cultura local
Outro tema que gerou reflexões importantes foi a acessibilidade nos espaços e na comunicação cultural. Compartilhei os esforços do Holofote Virtual para incluir práticas como legendas em vídeos e traduções, destacando que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito para tornar a cultura acessível a todos.
Surgiram observações sobre a falta de adaptação de teatros e cinemas para pessoas com deficiência, enfatizando como o jornalismo cultural pode ser uma ponte para sensibilizar tanto os gestores culturais quanto o público sobre a importância da inclusão.
Outra questão foi como equilibrar a cobertura de eventos nacionais e internacionais com a valorização das manifestações culturais locais? Os estudantes relataram o desejo de abordar temas regionais, mas apontaram dificuldades como a falta de recursos em redações e a preferência das grandes mídias por pautas mais comerciais.
Discutimos como, muitas vezes, a solução pode estar no jornalismo independente que, mesmo enfrentando limitações, tem a liberdade de explorar temas que os grandes veículos, muitas vezes, ignoram.
Foi uma manhã de trocas de experiências e visões genuínas dessa nova geração de jornalistas, que buscam compreender a missão de se reinventar constantemente, adaptando-se às novas tecnologias sem perder a essência ao registrar, interpretar e conectar as pessoas às manifestações culturais que as rodeiam.
Espero que todos e todas tenham saído motivados a pensar o jornalismo cultural não apenas como uma prática informativa, mas como uma ferramenta transformadora, que ilumina caminhos e promove a formação crítica do público. Foi um privilégio retornar à UFPA, onde também me formei em Comunicação, e testemunhar o entusiasmo de uma nova geração de comunicadores.