“A Comédia da Esposa Calada que Falava Mais que Papagaio na Chuva” prova que humor e palhaçaria é coisa séria. Premiado pelo Edital Paulo Gustavo/Secult (20023), o novo espetáculo dos Palhaços Trovadores estreia neste sábado, 15, em uma sessão para convidados, mas no domingo, 16 de fevereiro, às 20h, recebe o público em geral.
A montagem, inspirada em um dos canovaccios (roteiros de improviso) da Commedia Dell’arte, traz um tratamento especial quando chega ao grupo, mudando sua perspectiva original. O texto original, adaptado pelo Grupo Galpão (MG), inspirou a versão dos Trovadores, mas precisou de uma revisão crítica para se adequar às novas leituras sobre gênero e violência doméstica.
“Quando relemos o texto, contextualizando-o para os dias de hoje, percebemos que ele trazia uma relação abusiva, com o marido silenciando a esposa. Não podíamos mais encenar dessa forma”, explica Marton Maués, fundador do grupo e diretor geral do novo espetáculo.
Os “canovaccio” eram roteiros de improviso usados pelos atores na Itália entre os séculos XV e XVI. A Commedia Dell’arte foi um dos primeiros formatos de teatro profissional, em que os atores interpretavam personagens fixos e usavam a improvisação como base para suas apresentações.
“Os canovaccios eram espécies esboços que indicavam o desenvolvimento das cenas, permitindo liberdade para a criatividade dos atores. Alguns desses roteiros foram posteriormente registrados, tornando-se importantes referências para o teatro”, explica Marton Maués.
Uma criação coletiva

A dramaturgia foi desenvolvida coletivamente, com contribuições do elenco e um trabalho de redação final assinado por Mario Zumba e Ricardo Torres. A maquiagem de palhaço sai, para uma proposta de igualdade e o vermelho foi ressaltado no figurino. O processo de montagem foi longo e desafiador.
“Ficamos quase um ano trabalhando no texto, discutindo cada cena, cada fala, para garantir que a comédia fosse um instrumento de crítica social e não de reprodução de opressões”, destaca Alessandra Nogueira, assistente de direção e integrante do grupo.
O uso da poesia de cordel, característica dos Palhaços Trovadores, está presente, assim como vermelho que se destaca na direção de arte do espetáculo. “Somos trovadores, então a rima, o verso popular e a oralidade fazem parte da nossa linguagem”, explica Marton. Além disso, a montagem traz músicas originais compostas pelo grupo, reforçando o tom popular e envolvente da peça.
Espetáculo vai circular após a estreia

“A Comédia da Esposa Calada que Falava Mais que Papagaio na Chuva” já tem mais duas apresentações nas Usina da Paz programadas este mês, mas a ideia do grupo é levar a montagem a diferentes espaços da cidade. A classificação indicativa é 12 anos, mas não restrita, devido ao teor da trama, que aborda questões sensíveis, mas de maneira crítico-humorística.
“Nós queremos levar o teatro para perto do público, dialogando com diferentes comunidades”, reforça Marton. “Nosso humor é um humor que provoca reflexão. Faz rir, mas também incomoda e questiona”, destaca Alessandra.
Com 26 anos de história, os Palhaços Trovadores é um dos grupos mais antigos e sólidos da cena circense teatral paraense. Seu repertório inclui peças, inpiradas em cl’;assicos da dramaturgia, como “O Hipocondríaco” e também como “O Menor Espetáculo da Terra”, sempre misturando teatro popular, palhaçaria e cultura popular brasileira.
Atualmente, o grupo também realiza circulação com o projeto “Esse Rio é Minha Rua”, selecionado pelo edital Rouanet Norte, com patrocínio do Banco da Amazônia, levando espetáculos e oficinas a cidades ribeirinhas. “Nosso objetivo é fortalecer o teatro popular e democratizar o acesso à arte”, conclui Marton.
Serviço
Estreia: 15 de fevereiro (sessão para convidados)
Apresentações abertas ao público: 16 de fevereiro, às 20h
Locais da circulação: 20 de fevereiro (Usina da Paz), 22 de fevereiro (Jurunas)
Classificação: 12 anos
Ingressos: Contribuição voluntária no “chapéu”
Ficha Técnica
Elenco: Alessandra Nogueira; Cleice Maciel; Rosana Coral; Sonia Alão; Marcelo Villela; Marton Maués; Mario Zumba; Ricardo Torres.
Texto: criação coletiva com redação final de Mario Zumba, Ricardo Torres e Marton Maués.
Figurinos: Marton Maués
Confecção: Fernando Douglas
Cenário: Cláudio
Produção: O grupo
Assistente de direção: Alessandra Nogueira
Direção Geral: Marton Maués
Nota: O Holofote Virtual agradece a entrevista e o convite para estar presente no ensaio geral desta semana, antes da estreia. A seguir mais alguns registros feitos durante a apresentação.