Uma semana inteirinha para respirar moda na Amazônia. De 24 a 29 de março, Belém recebe a Semana de Moda Amazônica, um evento que celebra a inclusão, a sustentabilidade e a valorização da rica identidade cultural da Amazônia. O evento será uma oportunidade e tanto para encontrar e conhecer criadores e coleções da moda autoral paraense.
Trazendo como tema “Moda e Ancestralidade na Amazônia”, a programação reúne renomados estilistas locais, coletivos indígenas e marajoaras, além de estudantes de moda e novos criadores. Participam também escolas públicas e a Escola de Teatro e Dança da UFPA, oferecendo uma rica troca de saberes.
A estilista Alcimara Braga, curadora do evento garante que a semana será uma imersão no que há de mais autêntico e inovador na moda amazônica. “As criações apresentadas refletem a ancestralidade através do uso de materiais locais, técnicas tradicionais e inspirações nas culturas indígena, marajoara, negra, periférica, ribeirinha e urbana”, destacou em entrevista ao Holofote Virtual.
Para, ela acredita que resgatar essas raízes é essencial para valorizar a identidade local e promover uma moda que respeita o meio ambiente. “Nada sobre nós sem nós. Precisamos contar nossa própria história e empoderar o que é nosso, sem depender da validação externa.”
Os novos criadores enfrentam desafios significativos, como a falta de visibilidade e o acesso restrito a mercados maiores. Para Alcimara, eventos como a Semana de Moda Amazônica são essenciais, pois oferecem uma plataforma para esses talentos emergirem e se conectarem a profissionais experientes.
Alcimara também é responsável pelo movimento Moda Paraense e Fashion Show Moda da Terra, que têm como objetivo integrar coletivos, estilistas autorais e designers independentes, promovendo o desenvolvimento de uma cultura de moda e mercado na região.
“A Amazônia é uma grande potência para a moda sustentável. A possibilidade de se tornar uma zona franca da bioeconomia está sendo estudada, o que poderia estimular ainda mais a produção e comercialização de bioprodutos e serviços sustentáveis.”

A moda como pilar da economia criativa
O crescimento da moda paraense está diretamente ligado à economia criativa. “Nosso conceito de valores depende muito da perspectiva que temos sobre o que valorizamos”, afirma Alcimara.
Ela destaca que, enquanto alguns veem a moda local como “atrasada” em relação à global, ela está, na verdade, alinhada com as propostas de sustentabilidade e valorização humana.
“Temos muitos criativos, conseguimos fazer coisas incríveis com poucos recursos, ressignificando, reutilizando e reciclando materiais. A verdadeira moda de luxo é a que carrega singularidade e identidade.”
Os setores de moda e design têm se destacado dentro da economia criativa no estado. Dados da Firjan apontam que esses setores têm representação significativa na economia nacional, e no Pará, sua evolução é evidente.
“Há uma crescente valorização do trabalho manual, do feito à mão e do uso de materiais sustentáveis. A integração do design moderno com técnicas artesanais tem gerado produtos inovadores e culturalmente autênticos”, pontua Alcimara.
Além de estilista, Alcimara atua como professora e defende a ampliação de iniciativas educacionais, como workshops e programas de mentoria em comunidades, escolas e periferias.
“Vejo o impacto positivo da formação na capacitação de novos talentos. Já tive a oportunidade de ensinar sobre moda dentro de um presídio feminino, e acompanhei de perto o papel social e transformador da moda.”

Em busca do modelo de negócio sustentável
Destacando-se como exemplo de sustentabilidade, designers da região têm investido em técnicas como upcycling, tingimentos naturais, eco print e modelagem zero waste. “A moda paraense é prova de que é possível criar com qualidade e responsabilidade ambiental”, afirma Alcimara.
A colaboração entre coletivos indígenas, marajoaras, comunidade negra e estilistas independentes também é um diferencial. Essas parcerias promovem a inclusão e resultam em uma moda autêntica e representativa.
“Nada sobre nós sem nós. A moda daqui é criação, a arte daqui não pede permissão”, cita Alcimara, reforçando o protagonismo nortista no cenário nacional.
As expectativas para a moda paraense são positivas. A Semana de Moda Amazônica continuará a impactar o reconhecimento e a valorização da cultura local. “Com a visibilidade trazida pela COP 30, temos uma oportunidade única de mostrar ao mundo a riqueza da nossa moda, promovendo práticas sustentáveis e inclusivas”, enfatiza Alcimara.
Ela também critica a tentativa de padronização de medidas no vestuário brasileiro, argumentando que cada região tem suas especificidades e que a moda nortista deve refletir a identidade local.
“A moda na Amazônia deve ser uma celebração da diversidade e da ancestralidade, refletindo a verdadeira identidade da região. Ser único é algo que move o que chamamos de luxo na moda. Singularidade é um dos pilares do luxo, e a moda nortista tem tudo para ser reconhecida e valorizada pelo que é: autêntica, cultural e inovadora”, finaliza Alcimara.
Programação geral
Segunda-feira, 24 de março
14h – 16h: Abertura, Exposição, Apresentações culturais, Curta-metragem, Desfile
16h – 18h: Roda de Conversas: Moda Sustentável e Resgate de Identidades
18h – 21h: Roda de Conversas: Moda, Sustentabilidade e Ancestralidade
Terça-feira, 25 de março
10h30 – 12h:Tecendo Histórias: A Influência da Ancestralidade no Design de Moda Amazônico”,
14h – 16h: Workshop: Transformação de Imagem e Estilo
16h – 18h: Workshop: Editorial de Moda e Jornalismo
Quarta-feira, 26 de março
14h – 16h: Oficina: Passarela e Expressão
16h – 19h: Roda de Conversas e Desfiles: Ancestralidade, Beleza e Natureza
Quinta-feira, 27 de março
16h – 20h: Roda de Conversa e Desfile: Figurino, Espiritualidade e Cultura Amazônica
Sexta-feira, 28 de março
10h30 – 12h: “Autoestima e Empoderamento na Terceira Idade: Valorizando a Ancestralidade e Histórias de Vida”
16h – 21h: Roda de Conversa e Desfiles: Inclusão, Criatividade e Sustentabilidade
Sábado, 29 de março
10h30 – 12h: Oficina: Upcycling Musical e Sonoridade Amazônica
15h – 17h: Roda de Conversas: Inovação e Empoderamento na Economia Criativa
17h – 19h: Desfiles: Criadores do Marajó
19h – 21h: Desfile dos Criadores de Moda Autora Paraense