O processo criativo do artista em roda de conversa sobre sua nova série. Foto: Holofote Virtual

Werne Souza descama sutileza e resistência na exposição “A Maré não está pra Peixe”

Arte-território, crítica e resistência climática. A nova exposição do artista visual Werne Souza se traduz em obras estruturadas na observação das dinâmicas da vida amazônica que se diluem em microcosmos de contradições, onde a riqueza natural da região entra em colisão com as práticas predatórias da exploração de recursos.

“A Maré não Está pra Peixe” ficará aberta à visitação, até dia 05 de abril, no  Núcleo de Conexões Na Figueiredo, em Belém do Pará. Nesta última quarta-feira (19), a programação da mostra reuniu em uma roda de conversa os artistas visuais Tadeu Lobato, Sanchris Santos e Alexandre Sequeira, além do próprio Werne.

“O peixe do Werne não é só um peixe. Ele carrega toda uma questão simbólica, ecológica e política. Ele não está ali só pelo desejo pictórico, mas porque representa uma realidade que a gente já naturalizou: a escassez, a exploração e a dependência do que vem de fora. Quem abastece os mercados de Belém hoje? O peixe já não vem só do nosso rio.”, disse Alexandre Sequeira.

A conversa abordou também os desafios da produção artística no Pará, tecendo críticas ao sistema da arte e questionando o papel das instituições e da comercialização das obras. “Há o paradoxo de um mercado de arte que consome a transgressão, mas a domestica em molduras e galerias. A gente se acostumou a ver a transgressão empacotada pra vender. A pergunta que fica é: quem está comprando essa maré?”, disse Tadeu Lobato.

Pirarucu (Foto: Holofote Virtual

A metáfora da maré – presente no título da exposição – foi retomada em diversas falas, simbolizando os ciclos naturais, mas também as dificuldades enfrentadas pela classe artística. “A gente vê a cidade sendo dilacerada, e a arte sendo empurrada para um canto. Quem ainda tem espaço para existir e criar? A maré não está pra peixe, nem pra gente!”, comentou Wlad Lima.

Já, a artista Sanchris Santos trouxe uma perspectiva mais contundente sobre a atuação na arte e a necessidade de espaços mais diversos e inclusivos. “A arte incomoda porque desloca, e esse deslocamento não interessa a quem quer que a gente permaneça servindo. Tem artista que quer fazer o bonito, e tem artista que quer abrir a ferida. Qual o nosso papel? O Werne tá abrindo a ferida, mas será que o sistema da arte quer ver essa carne exposta?”

Roda de conversa debate as questões ambientais

Plateia atenta (Foto: Holofote VIrtual)

Trazendo à tona várias problemáticas que resultam da exploração desenfreada da floresta e rios que, a conversa destacou uma questão que causa espanto, o mercúrio derramado pelos garimpos, impactando na saúde das populações ribeirinhas.

“Neste sentido, a maré, que ‘não está pra peixe’ também reflete uma realidade marcada pela denúncia. E nesse contexto, a arte também se apresenta como ferramenta de sensibilização”, reforçou Sequeira.

Visitem a exposição. O artista traz junto à visualidade das feiras, as texturas de escamas e a umidade que se espalha pelas bancadas dos mercados de peise, alertando sobre a sobrepesca, as mudanças nos ecossistemas e a maneira como a relação entre humanos e natureza vem se transformando.

“A maré virou, mas a correnteza não mudou. O mercado de peixe é um retrato da Amazônia: uma riqueza que a gente vê escorrendo pelas mãos”, comentou Werne durante a conversa. Para ele, a repetição da imagem do peixe em suas obras também versa sobre um ciclo exaustivo, onde o homem consome e é consumido pelo próprio sistema.

Anote o endereço: Núcleo de Conexões Na Figueredo – Av. Gentil Bittencourt, 449, entre a Trav. Doutor Moraes e a Trav. Benjamin Constant, no bairro Nazaré, em Belém, PA.

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