A 4ª edição do Festival de Cinema Negro Zélia Amador de Deus, que acontece de 14 a 26 de janeiro em Belém, tem se destacado por uma programação rica e diversa. Com exibições de filmes, debates e formação audiovisual, o evento se firma como um marco na promoção da cultura e da produção cinematográfica negra na região amazônica.
Este ano, uma das iniciativas mais significativas é a sessão especial com audiodescrição, que acontecerá nesta so ta-feira, 24, às 15h30, no Museu da Imagem e do Som, no Centro Cultural Palacete Faciola.
Organizado pela produtora Cine Diáspora, o festival busca ampliar a visibilidade dos filmes produzidos na Amazônia e fomentar o acesso ao audiovisual por parte de diferentes públicos. Além das exibições em Belém, o evento também itinerou pelas ilhas de Caratateua, Combú, Cotijuba e Mosqueiro, levando a experiência cinematográfica a regiões muitas vezes excluídas do circuito cultural.
Acessibilidade como foco principal

Para Angra dos Reis, estudante de Comunicação Social na Universidade Federal do Pará, a sessão acessível é uma iniciativa transformadora. “Se fala tanto em fomentacão cultural e na importância de ocupar espaços culturais, mas a verdade é que muitos desses lugares ainda não são acessíveis para pessoas com deficiência. Ter um festival que oferece audiodescrição e estrutura inclusiva é essencial para que pessoas com deficiência possam não apenas acessar a cultura, mas também se reconhecer nela”, destaca.
Ela também enfatiza a necessidade de representação e pertencimento. “Nada sobre nós sem nós. Espaços inclusivos precisam nos representar e dialogar com nossas experiências. A cultura tem o poder de transformar o senso crítico de uma sociedade, mas isso só acontece quando a diversidade é acolhida de forma plena”, afirma Angra, que também é pessoa com deficiência visual.
A sessão com audiodescrição contará com a exibição de quatro produções que abordam temas ligados à ancestralidade, identidade, luta por territórios e histórias de superação. Confira os filmes:
Rezadeira (Diretor: Heric Ferreira)
Uma senhora da floresta prepara um ritual para benzer o povo da mata, utilizando plantas e ervas em um bosque sagrado. Ao final de seu expediente como benzedeira, surge seu lado profano, trazendo um contraste entre suas obrigações divinas e desejos terrenos.
Açaída: Mano, Tu É Daqui e Não de Lá (Diretor: Mário Costa)
Sebastião, jovem ribeirinho, vive o cotidiano de vender açaí com seu pai, mas suas experiências mudam ao conhecer Mariana, uma quilombola, e Helena, uma paulista. O curta aborda questões de ancestralidade e luta por narrativas em meio à industrialização do açaí.
Tu Oro (Diretor: Rodrigo Aquiles)
Ambientado no século 19, o filme narra a história de Joaquim, um garimpeiro negro que usa seu conhecimento da floresta para se libertar de um explorador francês que o mantém sob prisão para explorar uma mina de ouro.
O Som das Redes (Diretor: Assaggi Piá)
O documentário revisita a trajetória de Selmi Nascimento, jogador de futebol de cegos, que conquistou títulos nacionais e internacionais, representando o Brasil em diversas competições e promovendo a inclusão através do esporte.
Cultura como direito universal

A sessão com audiodescrição no Festival de Cinema Negro Zélia Amador de Deus ainda é mais uma ação isolada, mas chega como exemplo de como a cultura pode ser democratizada e tornar-se verdadeiramente inclusiva. Ao oferecer acesso a pessoas com deficiência visual, o festival reafirma o direito de todos ao lazer, à arte e à representação.
“Quando ocupamos espaços culturais que nos acolhem e nos representam, entendemos o nosso lugar no mundo. E aí está o verdadeiro poder transformador da cultura”, conclui Angra dos Reis. Que essa iniciativa inspire outras organizações e eventos a priorizarem a acessibilidade e a inclusão em suas ações.
Essa edição conta com o apoio da Lei Paulo Gustavo, através do edital 005/2023 de fomento ao audiovisual em Belém, que promove capacitação, formação e qualificação na área, além de apoiar cineclubes, festivais e mostras locais.
Serviço
Museu da Imagem e do SOM (MIS-PA) – Centro Cultural Palacete Faciola – Av. Nazaré, esquina da Dr. Moraes – Belém-Pa.