A Leitura dramática da obra de Matéi Visniec, dramaturgo romeno, com direção de Nando Lima, alia Inteligência Artificial, teatro e simbologias da China para trazer o universo poético e provocador do autor, e conta com as atrizes Valéria Andrade e Anne Dias em cena, além de uma ambientação visual que gera atmosferas oníricas, simbólicas e imersivas.
Embora o título remeta à China, a obra de Visniec não busca representar o país de forma realista ou documental. A “princesa chinesa” é interpretada por Lima como “um arquétipo carregado de múltiplas, e talvez contraditórias, camadas de significado – algo que sempre me atrai”.
Para ele, a figura transcende leituras exóticas ou literais e se torna um “significante aberto”, evocando tensões como tradição e modernidade, ou ainda questões sobre apropriação cultural e a força resiliente das narrativas ancestrais.
“A ‘princesa chinesa’ pode evocar discussões sobre o olhar ocidental sobre o Oriente, mas também sobre a identidade em um mundo globalizado e hiperconectado. Com o uso da IA, podemos desconstruir visualmente esse ícone, multiplicá-lo, fragmentá-lo, questionando a própria natureza da sua representação”, diz o diretor, que também assina a concepção visual.

Não espere, então, por uma leitura dramatizada como você já a conhece. A proposta do projeto desenvolvido pelo Estúdio Reator, é um experimento cênico em que a palavra de Visniec, carregada de camadas filosóficas e tensionamentos existenciais, encontra imagens em movimento geradas por IA.
Em meio a esse encontro entre palavra, imagem e silêncio, será servido chá verde, evocando delicadamente a cultura oriental que inspira o texto. A proposta é transformar a leitura cênica em um campo de prova para novas interações entre o humano, o textual e o artificial:
“Unir a palavra visceral de Visniec, que frequentemente aborda temas como alienação, a mecanização do ser e a crise de sentido, com visuais criados por uma ‘consciência’ não-humana como a IA, pareceu uma forma potente de amplificar essas tensões”.
Nando diz que “a dramaturgia de Matéi Visniec, com sua profundidade poética e suas frequentes incursões pelo absurdo e pela condição humana fragmentada, sempre me instigou”, afirma Nando Lima, para quem a introdução da inteligência artificial na criação visual surgiu “como uma progressão natural dessa busca por novas formas de diálogo”.

Desde os anos 1980, que ele vem explorado as interseções entre arte e tecnologia, incorporando elementos como televisores, videoclipes e com a fundação do Estúdio Reator em 2010, as possibilidades de experimentação triplicaram e suas performances ampliaram-se em formatos híbridos e mais provocativos do que nunca.
Projetos como “Reator Eterno”, contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural 2015-2016, exemplificam seu compromisso em criar experiências imersivas que conectam o público a narrativas pessoais e coletivas. Agora é a vez de “Cartas de Amor a Uma Princesa Chinesa” criar um impacto que, segundo ele, será múltiplo no público.
Serviço
Leitura dramática: Cartas de Amor a Uma Princesa Chinesa, de Matéi Visniec. Atrizes: Anne Dias e Valéria Andrade. Direção e ambientação visual: Nando Lima. Local: Casa das Artes – R. Justo Chermont, entrer 14 de março e Generalíssimo, ao lado da Basílica de Nazaré. Data: 30 de maio de 2025. Horário: 19h.