Chegamos ao momento em que Clemente Schwartz resolve seguir criando em outros compassos. Antes de aterrizarmos na Pérola do Caeté, vamos passear pela época em que o artista mergulhou na carreira solo, ainda em Belém, um pouquinho antes de deixar a capital. Série especial – Parte 3 (final)
Clemente deixou a banda Solano Star, ainda no início dos anos 90, quando vieram os primeiros flertes com a carreira solo. A estreia foi triunfante, no Rock in Rio Guamá, na UFPA.
Ao lado de músicos como Cláudio Darwich, Beto Insolente e Rodolfo Doddy, Cleo construiu um repertório de canções autorais entremeadas por clássicos do rock, levando seu show a praças, bares e eventos universitários. O Cosanostra, o Go Fish e o Vadião da UFPA se tornaram palcos frequentes.
Pouco depois, veio o mergulho no universo do blues. Primeiro com o trio The Great Electric Light Tonight Allright Genuine Blues Orchestra, que funda o Clube do Blues, projeto que transformou as terças-feiras do bar Baixo Reduto em noites movimentadas, inesperadas para aquele dia da semana.
“O movimento cresceu. Era impressionante ver o bar cheio para ouvir blues”, recorda.

Nos anos 2000, com o fortalecimento do brega paraense nas rádios e na cena de shows, Clemente também se envolveu de forma ativa. Produziu o projeto Brega Night, no Lapinha, onde realizou 44 shows consecutivos. Um espaço ousado para a época, com estrutura de bar e palco que recebia artistas do chamado “brega marcante”, em formato de produção diferenciada.
Paralelamente à atuação como cantor e produtor, Clemente mantenve seu trabalho no jornalismo. Durante oito anos, assinou a coluna Look, no Diário do Pará, ao lado da jornalista Karime Darwich Barra.
A coluna se tornou referência ao retratar tanto a cena social cultural e underground alternativa de Belém, renovando o olhar sobre os frequentadores das noites e das produções culturais da cidade.
Foram anos de entrega, muito criativos, um movimento que transformava Belém numa metrópole cultural diversa e sedutora, mas o tempo correu e por volta de 2006, Clemente percebeu que o ritmo já não era mais o mesmo. “A noite já não me animava como antes. Era hora de buscar outro tempo.”
Em Bragança na cena da cultura local

Em 2006, ele voltou a Bragança de forma definitiva. A mudança marcou um novo capítulo, mas sem afastamento da cultura. Ativo como correspondente do Diário do Pará para a região do Caeté, editor de jornal regional e assessor de comunicação, Clemente rapidamente se reintegrou ao dia a dia local.
E aí que a música e a cultura continuaram presentes na sua trajetória. Voltou a se apresentar em espaços alternativos, como o Vacaria Clube, e ampliou sua atuação artística também para o audiovisual. Escreveu o roteiro de “Assustado” (2010), em parceria com San Marcelo, cineasta de Bragança.
Em Bragança, Clemente reencontrou o ambiente que sempre valorizou: relações próximas, afetos duradouros e uma cultura que se manifesta de forma orgânica. “Aqui ainda acontece aquele gesto bonito: vizinhos que batem na porta trazendo quitutes. Bragança é fartura e irmandade”, diz.
Sobre a cena musical, observa que o movimento em Bragança é ativo e consistente, com muitos instrumentistas e cantores atuando na noite. “Os cachês praticados aqui se equiparam aos valores pagos em Belém, que, apesar de avanços, ainda estão abaixo dos grandes mercados como Rio e São Paulo”, pontua.
Em 2023, reafirmou sua voz e sua trajetória ao lançar o clipe “Vento Lento”, gravado entre Bragança e Brisbane, conectando passado e presente em uma produção viabilizada pela Lei Aldir Blanc.

Hoje, na Secretaria Municipal de Cultura (SECULT), Clemente atua em projetos voltados à formação teatral, como a I Mostra de Teatro de Bragança, prevista para agosto de 2025, e está finalizando o roteiro de sua primeira peça teatral, inspirada na fé em São Benedito.
“Estou buscando parcerias com profissionais de Belém para trazer suporte técnico para nossas montagens. A cultura aqui tem força, mesmo sem a mesma visibilidade dos grandes centros”, observa.
Prestes a completar 60 anos, Clemente olha para o passado, construindo o presente de forma contínua, fiel ao que sempre foi: um amante da cultura, da palavra e dos encontros.
