Natural de Macapá e criado entre Belém e Barcarena, no Pará, o guitarrista Givaldo Pastana tem história enraizada na música da Amazônia. Morando atualmente em Porto Alegre, ele lembra que foi na infância, ouvindo um velho vinil tocado na vitrola do avô, que Givaldo descobriu a música de Mestre Vieira, pioneiro da guitarrada.
“Desde pequeno a guitarrada corria nas minhas veias. Cresci ouvindo Vieira sem nem sonhar que um dia estaria frente a frente com ele, no palco”, relembra.
Anos depois, o encontro com o próprio Vieira, a amizade construída e as experiências nos palcos nortearam boa parte da sua carreira musical. O passado sua base, no presente, a expansão.
Hoje, morando em Porto Alegre, ele vive uma fase de reinvenção e, sem abandonar a tradição que marca e literalmente dá norte a sua trajetória artística, segue ampliando seus caminhos musicais e misturando raízes, no sul do país, onde encontrou novos públicos e novas linguagens para sua arte.
“Eu sou amapaense de nascimento, paraense de criação e gaúcho por amor”, resume ele, em uma frase que revela a grandeza e o afeto que marcam essa nova etapa de sua jornada.

Givaldo integra agora, o projeto Drink’s Café Bar, uma proposta inovadora que mistura música e narrativa cênica para contar a história de um capitão à deriva, em um espetáculo que remete a sonoridades de artistas como Tom Waits.
A convite do produtor Eduardo Faleiro, Givaldo aceitou um novo desafio: tocar banjolão — instrumento que, para ele, tem uma conexão afetiva e simbólica. “Quando me entregaram o banjolão, lembrei do Mestre Vieira, que também tocava banjo. Era como se o passado me empurrasse para essa nova jornada”, conta.
No projeto, Givaldo teve liberdade para criar e inseriu, naturalmente, as marcas da guitarrada em meio a atmosferas de rock psicodélico. “Eu estou jogando meu molho da guitarrada nessa parada aí”, brinca, animado.
Além disso, Givaldo prepara o lançamento do projeto Sultões do Balanço, ao lado da esposa e parceira musical, Cibeli Blanco, e de músicos locais.
O grupo irá apresentar músicas autorais, clássicos da guitarrada e do brega paraense, em uma fusão que promete trazer o sabor do Norte para as plateias do Sul. “A ideia é misturar o que somos: nossas raízes amazônicas com a vivência no Sul”, explica.

Unidos pela música desde o início, Cibele e Givaldo também formam o duo Cib & Gil, dedicado a apresentações acústicas. “Foi a música que nos uniu e é ela que nos mantém firmes diante de tudo”, diz.
Recentemente, lançaram juntos o single Os Medos e a Coragem de um Gato, inspirado na experiência que viveram durante a enchente de 2024 no Rio Grande do Sul.
“Essa música é uma homenagem a quem resistiu. Ficamos três dias isolados com nossos três gatos. Perdemos tudo materialmente, mas salvamos a vida — a nossa e a deles. Essa música nasceu como um agradecimento, como uma celebração à vida”, emociona-se.
A mudança para Porto Alegre também trouxe uma nova missão: divulgar e ensinar a tradição da guitarrada para músicos e estudantes gaúchos. Estudante de violão no Instituto Federal, ele conta que logo na primeira aula falou da cultura musical nortista para seus colegas e professores.
“O pessoal aqui não conhecia a guitarrada. Hoje, vejo um interesse crescente. E é um orgulho poder mostrar que ela é um patrimônio não só do Pará, mas do Brasil e do mundo”, reforça.
Homenagem em álbum visual – 2021

Givaldo é um entusiasta da Guitarrada e não é de hoje que ele se empenha em levar a obra do Metsre para os quatro cantos do mundo. o conheci entre 2007 e 2008.
E desde que ele soube que eu era envolvida com a cena cultural paraense, colocou na cabeça que eu era a pessoa certa para ajudar Mestre Vieira em novo momento da carreira solo, pós Mestres da Guitarrada e com a gravação de Guitarrada Magnética saindo do forno.
Pois é, só que eu não imaginava que toda aquela insistência para que eu fosse com ele à casa de Vieira, conversar com ele em Barcarena, daria inicio a uma nova história na minha própria vida, além de uma longa parceria com um grande mestre da cultura brasileira e com o próprio Pastana.
Pois foi assim, depois de aceitar o convite dele e me apaixonar pela história do Mestre e pela Guitarrada, passei a pesquisar, produzir e respirar Vieira. Teve DVD dos 50 Anos, série de animação e um documentário que está prestes a sair.
Anos se passaram até que em 2021, após o falecimento de Joaquem de Lima Vieira, em 2018, tive a honra de produzir o primeiro álbum solo de Givaldo, o “Saudade do Lima”, inteiramente dedicado à guitarrada e também à memória de Mestre Vieira.

O trabalho reúne oito faixas que transitam entre carimbó, bolero, cúmbia e lambada instrumental. Entre as participações especiais, destaca-se a presença de Cibeli Blanco, que interpreta a canção Mate com Açaí, já apontando para as misturas e conexões que viriam. O álbum conta também com colaborações do cantor Falcão, marcando a presença do Ceará na obra, e dos guitarreiros Bi Martins e Nicácio Bráulio.
“O disco nasceu da saudade. Cada faixa carrega lembranças, afetos e a intenção de manter viva a essência da guitarrada amazônica”, define Givaldo.
Gravado no Stúdio Z, em Belém, com direção musical de Carlos Canhão Brito, o álbum visual foi viabilizado pela Lei Aldir Blanc. Além da produção execurtiva também assino a direção artística do álbum visual. A capa do álbum apresenta uma fotografia de Otávio Henriques, capturada na casa de Mestre Vieira.
Assista também: Sala de Ensaio do Sesi-Pa //
E a seguir, o álbum visual completo! Agradeço não só ao Givaldo pelo convite e confiança, mas também a André Vaz, pela edição e Carol Abreu, que fez a arte do álbum e dos clipes. Além deles, toda uma equipe envolvida.