O teatro paraense se despede de mais um de seus grandes artistas. Mário Zumba, ator, palhaço e escritor, faleceu neste sábado, 22 de fevereiro, triste e ironicamente a mesma data em que celebraria seu aniversário. Integrou do grupo Palhaços Trovadores, uma trupe com 26 anos de história em Belém, onde atuou de forma mais definitiva nos últimos quatro anos.
Zumba traz a trajetória marcada por uma inquietude criativa que o levou a transitar por diversas expressões artísticas, como literatura, teatro, cordel e poesia.
Em 2024, ele co-fundou a Cia. 2 de Teatro ao lado de Marton Maués, dedicando-se a espetáculos intimistas apresentados em residências, como “LAPSUS”, que aborda a complexa relação entre pai e filho em meio a dramas pessoais. O texto é dele e recebeu o prêmio de criação literária da Fundação Cultural do Pará. Virou livro.
Nos últimos anos, Zumba seguiu explorando as possibilidades da comicidade e do improviso, debruçando-se sobre a palhaçaria. Na semana passada estava em cena com o novo espetáculo dos Trovadores “A Comédia da Esposa Calada que Falava Mais que Papagaio na Chuva”, adaptação inspirada na Commedia Dell’arte.
Trajetória também na literatura

Zumba publicou os livros infantis “Kukrã e o camaleão”, “A história dos dois Moisés e a cobra-papagaio”, e um de poesia, “Olhos de Letra” (poemas e aldravias), além de vários trabalhos em literatura de cordel. Em entrevista ao podcast Plurarte, porém, revelou modéstia ao afirmar:
“Eu escrevo, mas eu não sou o escritor, sabe? É meio descompromissado, uma escrita descompromissada.” Apesar disso, seu talento foi reconhecido com outro prêmio, o Pedro Veiga, do Ministério da Cultura, por seu texto “Cuidado com o tamanduá-bandeira”.
Sua paixão pela poesia o levou a explorar as aldravias, uma forma poética brasileira composta por seis versos de uma palavra cada. Sobre essa prática, ele comentou: “É um desafio diário.” Mário compartilhava diariamente suas criações em seu perfil no Instagram, inspirando outros a se aventurarem nesse estilo literário.
Dia triste para toda a comunidade cênica. Sua próxima volta ao redor do sol inaugura um ciclo que se abre, mas não se fechará, nem encerrará, pois ele agora se completa, ressignifica-se e transcende. E ele sabia disso. Há quatro dias, o ator, escritor e poeta tinha postado mais uma de suas aldravias:
Terra //
Planeta
Mãe//
Útero
Colo//
Túmulo
Zumba.
Uma despedida de forma suscinta (direta) e profunda, como sua jornada. Nos poemas, no teatro, na vida, sua essência era tocar a alma das pessoas.